quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Dentista?

- Vai doer?

- Vai não.

- Tem certeza?

- Tenho sim.

- Tem anestesia geral?

- Não usamos anestesia geral para tratamento de dente.

- Mas pode abusar da anestesia local, né?

- Abusar, abusar não. Mas posso usar um pouco mais.

- Ótimo, pode usar tudo! Não precisa economizar.

- Mas eu já disse que não vai doer.

- Pois a senhora me desculpe, mas já me disseram isso antes.



Um bom tempo depois, deitada naquela cadeira desconfortável, completamente tensa, de olhos fechados, mão geladas e suando frio eu ainda esperava a dor que deveria chegar a qualquer momento.



- Terminamos por hoje.

- Pera, mas nem doeu.

- Eu disse que não ia doer.

- Eu pensei que a senhora tava só me enrrolando.



Saí do consultório mais confiante, desejando que existisse anestesia pra outros tipos de dores também. Mas daí eu pensei de mim pra mim mesma:



- Só honestidade já ajudaria muito.


Dédala Zen

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Vivo sim!

Eu vivo
vivo bem!
Carmelita Oliveira

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Amigo, logo chegará o dia em que te arrependerás dos teus feitos.
Um dia irás pegar pelos teus medos, teus anseios, tuas dores profundas.
Um dia irás pagar pelas mentiras, pelos jogos, pelas dissimulações.
Um dia irás pagar pelo silêncio, pela paciência, pela tua infinita reclusão.
Um dia irás pagar pelos sorrisos, pelos abraços, pela partida.

Quem liga, se querias provar ao mundo que existia?
Quem liga se não nasceste corajoso, forte e resistente?
Quem liga se não tivesses outros meios, outros jeitos, outras saídas?
Quem liga se não suportas machucar, magoar ou vê-la chorar?
Quem liga se eras feliz, se sentias saudade ou se brincavas de amar?

Por que ela achou que era brincadeira o meu pedido, o meu sorriso e os meus versos.
Audrofonso Araújo III

Viva as diferenças

Meu grito vai para os que teimam em sacanear as diferenças pintos e xanas do nosso Brasil. Quero dizer que homem alto, mulher pequena, homem pequeno, pinto pequeno, é coisa da cabeça de vocês. Não que o que importe unicamente seja o amor. O que importa é que seja bom para você. Cada um que encontre seu número de sapato, não é mesmo? Meu pé, por exemplo, é uma frescura só. Mas o que você tem a ver com isso? Durma com alguém, dê, doe-se, acorde bem, fume um cigarro, vire de lado e seja feliz. [a salvação do mundo será quando tio D fizer ouvidos que fechem como os olhos. Já pensou na gente piscando os ouvidos?]
Perfídia [num dia atípico de bom comportamente moral]

sábado, 24 de novembro de 2007

Estupidez

Eu simplesmente não sei o que fazer com pessoas que choram (literalmente ou não) por causa de atos estúpidos de minha parte. Sim, porque eu sou bastante estúpida vez ou outra. Não estúpida (apenas) no sentido de não utilizar minha inteligência, mas estúpida (principalmente) por não usar a minha sensibilidade. E existem noites onde a estupidez reina absoluta em mim.
Ser estúpida é fácil, as vezes é até automático. Tentar reparar depois eu não sei nem se tem como. "Me desculpa", "eu sinto muito" e suas variações não representam nada. Corretivo não corrige palavra dita. Botão de "delete" não funciona, nem "insert" pra gente se 'desdizer' por cima do que já disse. Esse filme não rebobina. Máquina do tempo é só quimera. O que fazer?
Só resta baixar a cabeça e continuar repetindo o "me desculpa" da forma mais verdadeira possível e torcer muito para que a outra pessoa possa alcançar que você realmente sente muito. E eu sinto.
Dédala Zen

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Um cadarço desamarrado no ônibus

Acho que estou ficando velho. Não sei porque, mas às vezes, não consigo mais ver conserto para esse mundo. De vez em quando, sou tomado por uma tristeza quase surreal, um misto de desesperança e dor. Acho que o medo está tomando conta das pessoas, paralisando seus movimentos, manipulando seus atos.

Na semana passada estava dentro do velho Rio Doce/ CDU, sentada na cadeira única, que fica ao lado da porta de saída, quando alguns garotos entraram no ônibus pela porta de trás. Eles entraram agachados, quase se arrastando pelo chão, tentando escapar dos olhos despreocupados do motorista e do cobrador.

Eram cinco garotos, todos vestindo bermudas e camisas regatas. Todos estavam descalços e carregavam consigo aqueles três bastões de madeiras e borracha que eles usam para fazer malabarismo nos sinais. Os garotos permaneceram umas cinco paradas no ônibus, sempre agachados atrás dos bancos para não serem vistos.

Umas duas paradas depois que eles entraram, quatro pessoas se levantaram para descer. Um senhor de uns 50 anos, um cara beirando uns 25, uma mulher com quase a mesma idade e o filho dela, que devia ter uns quatro anos. A criança e a mãe ficaram bem perto dos garotos que estavam abaixados. A mãe parecia evitar olhar para os meninos, o filho nem parecia notar as outras pessoas. Estava abismado com o veículo em que andava.

Foi quando um dos meninos agachados notou que o cadarço da criança estava desamarrado. Sem titubear, ele tocou na mão do guri. Ela demorou um pouco pra olhar, e quando olhou, três dos meninos já haviam notado o cadarço. Ela olhou para os meninos com uma cara de nojo, e nem sequer fez sinal de entender quando eles apontaram para o tênis do garoto e contaram o problema. Na mesma hora ela voltou a olhar para cima. Os meninos ficaram preocupados. Como uma criança de três anos vai descer os três lances de escada do ônibus com o cadarço desamarrado? Sem falar no ajuntamento de pessoas que vai estar na calçada quando eles descerem.

Depois de uma rápida conferência, eles decidiram que iam amarrar o cadarço. Um dos meninos, o ùnico que parecia saber amarrar sapatos, engatinhou de joelhos até a criança e com uma habilidade sem igual, deu um laço perfeito no cadarço. Assim que acabou, ele levantou a cabeça sorrindo para olhar para a mulher. A mulher nem olhou pra cara dele. Assim que o ônibus parou, ela colocou o filho para andar e desceu. Do jeito que estava, os garotos ficaram, estavam entre se ofender e não ligar. Dez segundos depois mudaram de assunto. Acho que já estavam acostumados com aquele tipo de coisa.

Não sei o que levou aquela mulher à não agradecer, mas acho que isso é uma mostra de onde iremos chegar. Será que o medo nos deixou tão paralisados a ponto de não agradecer a um garoto que se arrastou no chão de um ônibus para amarrar o cadarço do nosso filho? Se tivermos chegado a esse ponto, acredito que não temos mais volta, seja lá pra onde estivermos indo...


Audrofonso Araújo III

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Adventos

Hoje eu quero dar um grito diferente do meu jeito de sempre gritar: meu grito vai ser curto e breve.

Eu quero gritar um viva às possibilidades. Aquelas janelinhas que nos abrem um mundo cheio de coisas por vir! Ah, e como é bom brincar de advinhar as coisas boas que estão por vir!!!!

E melhor ainda é saber que elas virão!!!


Dédala Zen
Gritar para expurgar a dor ou para exaltar a felicidade. Gritar para libertar a indignação. Gritar o terror.
Quantos desses gritos vão ser ouvidos? Quantos desses gritos vão ser gritados? E quantos vão ser calados? Pelo tempo, pela distância, pela indiferença ou pela censura.
Quantas declarações de amor eterno gritadas em janelas em no meio da rua vão ser substituídas por sussurros velados em noites de chuva?
Maviosa Grulha

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Quem me perdoem as pessoas com mais idade, mas ser adulto é muito chato.
Maviosa Grulha

domingo, 28 de outubro de 2007

Toca Raul!!!!!!!!

Vivemos em um mundo cada vez mais corrido, exige-se pressa e precisão, exige-se muito e ao mesmo tempo, tem que ser e temque ser pra agora. As pessoas têm se acostumado a viver cada vez mais em meio a todo esse agito, barulho e demanda.

Um dosgrandes problemas dessa "roda da vida pós-moderna" é que muita gente acaba ligando o piloto automático pra poder aguentar o tranco, e ai meu amigo, gente vira máquina.

Depois de muito pensar e repensar acabei descobrindo que eu estava abandonando os rumos da minha existência às rédeas do acaso e da pressão. Resultado: decidí desliguar o piloto automático. Me dei uma folga!!! Contrariando a lógica que ensina "parar é andar pra trás" dei uma bela "fugere urben" em plena quinta feira: fui para praia olhar o mar e escutar Raul!!!!

Afinal só uma pessoa que canta "porque quem pensa, pensa melhor parado" pode servir de trilha sonora para momentos contemplativos. E o que eu contemplava? Eu contemplava (pela primeira vez em muito tempo) a mim mesma, parei pra prestar atenção em mim. Resultado: as coisas ficaram mais claras, as dúvidas passaram e os problemas readquiriam suas devidas proporções.

Por isso, eu recomendo... meu amigo, puxe o freio de mão e se permita parar. Se permita pensar!
Dédala Zen



sexta-feira, 26 de outubro de 2007

A Confraria foi tomada de assalto

Dia 26 de setembro de 2007. A ditadura acaba de chegar a Confraria do Grito. A partir desta data, este blog será regido com mãos de ferro. Isso mesmo! Eu, Audrofonso Araújo III, acabo de tomar posse do cargo de manda-chuva desta bodega. E com o poder instituído a mim, pela minha própria pessoa, posto neste momento, o meu primeiro decreto.

Decreto de N° 1; Recife, 26/10/2007

Eu, Audrofonso Araújo III, venho por meio deste, declarar livre, toda e qualquer forma de expressão na Confraria do Grito. A partir da postagem desse documento, todo e qualquer confrariano tem o direito de fazer o que bem quiser com os seus gritos.

Caros confrarianos, com esse decreto, chega ao fim, os tempos do medo. A partir de hoje, vocês são livres para determinar suas próprias postagens. Se for vosso desejo gritar, então gritem. Gritem de dor, de amor, de medo. Mas se vossa vontade não é gritar, então meus amigos, não gritem. Apenas sussurrem! Sussurrem nos ouvidos dos seus amigos, dos seus amores. Sussurrem suas dores, seus medos, seus receios. Pois o sussurro nada mais é que um grito contido, um grito tímido, um desabafo carinhoso ou pesaroso. Um sussurro é um tipo de grito dado, apenas, para os mais chegados, e vocês caros amigos, fazem parte desse grupo.

Esqueçam as regras! Queimem vossos livros de texto e gramática. Pois é chegada a aurora de um novo tempo. Um tempo em que nós passaremos a dominar. Não tenham mais pudores. Esqueçam suas famílias, seus amigos. Esqueçam o mundo. Isso mesmo meu amigo, esqueça o mundo, pois para o seu governo, caro companheiro, o mundo está cagando e andando para o que escrevemos nesta bodega.
Sem mais para o momento,

Audrofonso Araújo III

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Correspondente no Confraria

Quem disse que ter correspondente é privilégio de grandes veículos com grande público e um belo patrocínio. Necas de pitibiribas!! Em uma nova empreitada para que o som de nosso gritos chegue à todo o Brasil, o Confraria do Grito reuniu todos os recursos de que dispunha (incluindo as economias guardadas no jurubeba, o porquinho que a Dédala guardava desde que era a dedinha linda da mamãe) e mandou correspondente para o Rio Grande do Sul. É isso mesmo! A partir de hoje, o meu querido amigo Jean Pierre Lêcaguê estará nos enviando crônicas quentinha daquela linda terra, onde os homens só pensam em churrasco e espeto (sem querer ofender ninguém). Mas agora, sem mais delongas, posto a crônica de estréia do nosso amigo Jean Pierre Lêcaguê.

PS: A Confraria do Grito espera a sua colaboração (grana meu filho) para que em pouco tempo, este cidadão que vos fala, esteja aportando na Inglaterra. Quem quiser contribuir, favor entrar em contato pelo e-mail: confrariadogrito@gmail.com .

Audrofonso Araújo III


Andanças em Porto Alegre
Quando cheguei na capital gaúcha, a primeira coisa que notei é o povo tem uma certa mistura de educação com indiferença. Eles até respondem uma pergunta ou duas, mas também é só, logo viram a cara e seguem suas vidas. Nos primeiros meses achei tudo diferente, roupas (é incrível como as mulheres aqui adoram usar leggin) as casas, os programas de tv, o jeito rápido do gaúcho falar e principalmente as gírias. Nunca tinha ouvido tantos "bah", "tri", "tchê" e "guri" ao mesmo tempo, nada disso tinha a ver com o meu sotaque, que pra mim não tem nada de cantado, se comparado com o gauchês. Nas conversas era eu rindo do jeito deles falar e eles rindo do meu.

Pensando bem, acho que aí já começou a primeira troca de experiências que um intercambio (mesmo que a nível nacional) pode trazer. Muita gente aqui começou a falar "eita" por minha causa. Eu, comecei a simpatizar um pouco com o "tri". Já pensou quando você acorda atrasado pra faculdade, no caminho pisa no coco do cachorro e quando chega lá descobre que tinha esquecido da prova que era pra hoje... é meu amigo, você não está fodido, você está tri fodido.

E como cada região tem seus costumes, com o Rio Grande do Sul não poderia ser diferente. Aqui todos amam e veneram o "churrasco gaúcho", que a em todo Brasil já se faz direitinho, ou até melhor que muitas churrascarias daqui. Certo dia provei pela primeira vez o quentão, uma bebida diferente de tudo que já tomei. Pegue a cachaça, vinho, cravo, canela e junte tudo isso numa panela. Está feito a bendita. Achei estranho porque era quente, sei lá, nunca tinha visto ninguém botar pitu pra ferver. É bem docinha, desce macio e reanima. O problema é que quando percebi o que já tinha bebido, era tarde demais. Um no mínimo "alegre" (para não dizer bêbado) surgia em Porto Alegre.

Algumas das experiências peculiares que vivi aqui também são relacionadas a comida. Uma foi quando me disseram que eu tinha que comer o Chico balanceado de qualquer jeito. Para os menos puros de coração isso tem um certo duplo sentido e como não sou nenhum santo comecei a pensar em besteira. A outra situação desse tipo foi quando me disseram que eu iria conhecer a Bergamota. Na mesma hora pensei que era uma mulher já que tem tanta gente com nomes esquisitos pelo mundo afora. Richarlyson, Aldrofonso, Adroaldo, perto desses exemplos Bergamota não me causava mais surpresa. Quando vi, era só um outro nome pra laranja cravo.

Mas isso não é nada perto de uma visão que tive no centro da cidade. Passeando tranqüilamente pela rua, entre camelôs e outros seres típicos do centro de qualquer capital nacional, vejo do outro lado da rua uma figura contrastando com o restante do cenário. Um cara de bota, uma calça estranha, camisa azul de botão, um lenço vermelho no pescoço, um bigodão e um chapéu estilo do vovô. Olhei, olhei e fui pra casa, depois perguntei o que era "aquilo" e me disseram que ele era um Galdério, símbolo da tradição gaúcha. Agora, imagina se essa moda pega no Recife também. A gente andando bem tranqüilo pela Conde da boa Vista e de repente passa um caboclo de lança com uma sacola da Renner na mão, passeando pelo centro!

No começo é tudo muito lindo, tudo muito belo, mas depois o que é novidade passa a cair na mesmisse, as coisas começam a entediar e a saudade de casa aumentar. Agora o pensamento é um só: voltar pra casa. Quero comer tapioca, o feijão de mainha, quero recuperar meu sotaque, rever os amigos, praia, tomar água de côco diretamente no côco, ir pra Sé, Recife Antigo, faculdade e o mais impressionante, até do brega sinto falta. Nesse meu tempo no estado, conheci muitas coisas, vi muitas pessoas, lugares, tive a certeza de um amor e amadureci em vários aspectos. Histórias para contar é o que não faltam quando voltar para minha terra. Não vejo a hora de chegar em casa e poder dizer... VOLTEI RECIFE! (e Olinda também)

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Por que não?

Por que as relações afetivas estão se deteriorando? Porque vivemos em uma época onde é mais importante cuidar apenas dos nossos próprios interesses. Só importa o individual. As pessoas são descartáveis, as relações são descartáveis, nós mesmos somos descartáveis, usados aqui e acolá e depois jogados fora ou postos de lado. E, assim, vamos reproduzindo, sem nem refletir, um sistema fadado a nossa própria extinção.

O que será de nós sem o próximo? Sem termos em quem nos apoiar ou com quem regozijar a vida? É no outro que vemos nossos defeitos e qualidades. É com o outro, família, amigos, companheiros, que construímos algo que valha nossas vidas. Laços bem atados que levamos além túmulo. Não é porque alguns desses laços se rompem ou são desatados que podemos ousar ter a covardia de nos isolarmos do todo.

Quão covardes seríamos nós. Como disse Fernando Pessoa “Arre! Estou farto de semideuses. Onde há gente no mundo?”. Pessoas que se arrisquem a sofrer, amar, chorar e rir das próprias asneiras. Pessoas dispostas a se machucar e a ter sempre um ombro para as dificuldades. E um abraço para as comemorações.

Quão burros seríamos nós. A vida passando e nós assistindo.
Maviosa Grulha

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Sobre gritos e pulsos

Tudo começou quando fui com uma amiga a um show e durante a apresentação das moças que cantavam e tocavam, reparei em um pedaço de uma das músicas, o pedaço era esse: “quando você não está eu vou tocar tambor, extraviar no pulso toda a minha dor”. Fui do teatro até o estacionamento cantarolando essa música, quando cheguei no carro coloquei o cd e comecei a escutar a tal da música no “repeat” até chegar ao meu destino seguinte.
Dois dias depois eu ainda estava ouvindo a mesma música, foi quando comecei a achar que talvez eu não estivesse percebendo o que aquela frase queria me dizer, eu não entendia a razão daquela repetição constante na minha cabeça. Passei, então, a encarar como uma questão de honra conseguir alcançar a importância daquele trechinho de música para mim.
Alguns dias mais tarde, e a frase ainda se repetindo... foi quando veio o primeiro sinal de luz nos meus pensamentos: “tem alguma coisa com extraviar a dor no pulso” mas essa pista ainda foi insuficiente, afinal de contas eu não estava sentindo dor alguma (muito menos as de origem romântica) e não sabia nem sei fingir que toco tambor.
Uma semana depois e estou eu presa em um dos quatro engarrafamentos espalhados na cidade por causa de manifestações do MST (é bom lembrar que dos quatro eu consegui a proeza de ficar presa em três), como de costume escutando a tal da música e eis que finalmente veio a resposta: é o Confraria!!!!!! Claro que só poderia ser alguma coisa a ver com o Confraria!!!!! Sim meus amigos, Confraria do Grito!!! Esse blog que nos une...
Será que deu pra entender minha epifania? Acho que não, deixa eu tentar explicar um pouco melhor: extraviar no pulso é o que a gente quer fazer aqui! Mas aí você pode me pergunta, “ora, o confraria não tem por objetivo maior promover gritos?” Mas sim meus amigos, gritar no nosso caso tem tudo a ver com pulsos. É que as pessoas estão acostumadas a gritar usando os pulmões, o diafragma, a traquéia e a boca, nós não. Aqui no Confraria gritaremos com os nossos pulsos!
Claro que não gritaremos sempre por causa de alguma dor, tanto que o post inalgural foi um grito de agradecimento e carinho, mas foi gritado com o pulso, e não com os pulmões, do nosso amigo Audrofonso Araújo. Bem acho que era só isso, eu já não escuto mais a música no repeat e vocês sabem que usaremos nossos pulsos até faltar o ar de nossos pulmões! Em tempo, a música citada chama-se “O que eu também não sou” da banda Chicas.
Dédala Zen





quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Uma resposta de agradecimento

Há poucos minutos recebi essa carta. A forma como ela chegou a mim não interessa. O conteúdo basta. Segue:

Caro Sr. Audrofonso Araújo III

Solicito encarecidamente que poste esse meu grito, em meu nome. Devido a minha impossibilidade de locomoção, não poderei publicar eu mesma. Agradeço desde já a atenção e o post anterior. Vou cuidar ainda melhor das seis vidas que sobraram.

Atenciosamente,

Maviosa Grulha


O conteúdo:

Um segundo e o mundo acaba. Um segundo e a vida fica suspensa. Um segundo e você renasce.

A dor, o medo, a tensão. O desespero.

Ainda é tão cedo...

Olhos abertos. O mundo pulsa. O tempo pulsa. As pessoas pulsam.

- Fique calma, ta tudo bem.
- Vou rezar por você.
- Não se mexa!
- Como é o seu nome?
- Cuidado com ela!
- Vou orar por você...

Está tudo bem. Obrigada. Muitos “obrigadas”.
Por cuidar de mim, por ficar comigo, por me visitar, por ligar, por se preocupar, por rezar.

O milagre da gente não sai no jornal.

A bondades das gentes não sai no jornal.

Ainda da cadeira de casa,
Maviosa Grulha

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Amigos

Que me perdoem as namoradas, mas os amigos são fundamentais. Não! Isso não é um texto homossexual dando desculpas para se ter uma figura do mesmo sexo sempre presente, afinal de contas, amigos não são, obrigatoriamente, do mesmo sexo. Não! Esse texto é uma forma de homenagear grandes figuras humanas que fizeram, e ainda fazem, parte da nossa história. Os amigos.

Para um homem (acredito que isso também sirva para as mulheres) é impossível, diria que metafisicamente impossível, viver só de namorada. É como pedir para um indivíduo viver sem glicose, quando ela é um combustível fundamental para o organismo (queria fazer essa analogia com cerveja, como diversos cronistas contemporâneos, mas como não bebo isso seria golpe baixo). Só sentimos a verdadeira importância dos amigos quando não temos, ou estamos brigados com nossas namoradas.

São com nossos amigos que passamos boa parte do nosso tempo. Geralmente, eles não ligam se o relógio está marcando horas, minutos ou segundos desde que nos sentamos à mesa. Eles nem ligam (muito) se a garota é a mesma da semana passada ou do ano passado. Só os amigos entendem a santidade de uma paixão não consumada. O máximo que eles podem dizer é: "uxe! Ainda tás nessá é?". Mas ainda assim, eles nos escutam pacientemente.

Só grande amigos são capazes de, junto com você, passar horas observando as pernas de louça das moças que teimam em passar. Esse é um rito sagrado que só pode acontecer entre grandes amigos, pois com conhecidos, isso deixa uma sensação de assistir filme de putaria em cinema pornô (não que eu já tenha entrado em um, mas deve ser constrangedor).

Com os amigos somos nós mesmos, coisa quase impossível de ser com uma namorada. Afinal, o homem é um grande tabacudo e as mulheres (algumas) não gostam de um tabacudo em tempo integral. Às vezes, elas precisam de um homem sério. E ser sério cansa pra burro. Mas a maior qualidade dos amigos, é que todos eles são PHD em inutilidades. Quando três grandes amigos se juntam para conversar, é o maior festival de inutilidades que eu já tive o prazer de observar.

O mais importante de tudo. Os nossos amigos são os maiores responsáveis por nosso vasto vocabulário. Afinal, são com eles que trocamos ofensas desnecessários pelo simples prazer de falar palavrão. Geralmente uma conversa entre dois amigos começa assim: Amigo 1 - "E aí minha bicha!"; Amigo 2 - "Fala Fresco". Mas nada é mais tocante que uma despedida entre amigos: A1 - "Aê seu puto"; A2 - "Aê um caralho, aê dentro"; A1 - "Aê uma porra. Aê dentro até o talo".

Só pra finalizar, que esse texto já está ficando grande demais. Amigos são os caras que vão nos tirar da fossa quando tudo estiver desmoronando, isso, é claro, se eles não se jogarem nela conosco, só pra termos alguém com quem conversar inutilidades enquanto estamos por lá. Por isso, parafraseando o poeta, eu grito: "Que me perdoem as namoradas, mas os amigos são fundamentais".
Audrofonso Araújo III

terça-feira, 9 de outubro de 2007

"Só o orgasmo salva"

Por favor, delete todos os filmes pornôs da sua mente. Dos mais puros japoneses até os canadenses [devo dizer: ui]. Todos. O amor real exige mais.

Este grito é pela cabeludice humana. Salvem as italianas, despidas de valores estéticos impostos. Salvemos seus sovacos e pentelhos que podem ser falados ao centímetro plural. Esqueçamos as vulvis raspadas, destruídas, oprimidas pela indústria do amor fugaz. O amor precisa ser cabeludo. Precisamos abstrair da realidade aparente, para entrarmos no mundo da salvação. Salvem as cores dessa mudança. O desejo à frente de nossos olhos é impertinente às lâminas, que nos remetem à crueldades. Não sejamos, nós, culpados pela causa brochis de nossos cabelos. Façamos o inverso.

Oremos, caros confraríanos: "Só o orgasmo salva."

Amém.


Perfídia.

domingo, 7 de outubro de 2007

Manifesto Primeiro do Grito

Povo do meu Recife, estou colocando aqui o nosso manifesto. O manifesto da Confraria do Grito. Aquilo que, apesar de acreditar que pode, nunca irá nos reger. Pois a Confraria do Grito não será regida, aqui, vale a lei da esculhambação, cada um posta o que quer e o que dá na telha. Então vamos ao manifesto:

Manifesto Primeiro do Grito

O grito foi liberado. Após séculos de encarceramento, finalmente, o mundo pode voltar a gritar aliviado. Nada poderá nos parar. Nenhuma convenção social, nenhuma educação modelo, nem mesmo o nosso pior inimigo: uma mãe conservadora. Nada temeremos. Acabou o tempo do silêncio.

Desde os primórdios da humanidade, o grito é malquisto pela nossa sociedade vil e conservadora. Se gritamos quando crianças, somos mal-educados e arruaceiros. Se gritamos quando adolescentes, somos idiotas, indignos de qualquer status social. Se gritamos quando adultos, somos débeis mentais ou loucos que não agüentam a pressão do mundo. E se gritamos quando idosos, somos caquéticos que já deveriam estar internados em uma clínica geriátrica. Ou seja, o grito nunca foi aceito.

Com este espaço, esperamos gritar. Colocar para fora aquilo que está entranhado na profundidade oculta do nosso ser. Não pretendemos mudar o mundo. Só queremos gritar. Gritamos pelo simples prazer de gritar. O nosso mentor Bok Gran du Krai, um velho sábio e poeta da tribo de Obaba Xola, que fica localizada nas brenhas das brenhas do interior pernambucano, dizia: “Gritar é preciso, o resto é putaria”. Não esperem vocês, improváveis leitores, que aqui discutamos os rumos do País, ou o futuro do nosso mundo pré-apocalíptico. Não! A não ser que algo precise ser gritado, pois aí é com a gente mesmo. No mais, estaremos apenas divagando, desabafando, jogando conversa fora numa tarde de domingo sem futebol (Maviosa não gostou da questão do futebol, ela não é boleira. Coitada, não sabe o que está perdendo). Ou seja, estaremos gritando.

Audrofonso Araújo III

O bar de Seu Jorge: O dia em que o Leão devorou Timão

Já faz tempo.
Hoje já tem outro jogo.
Mas é assim que acontece lá em Seu Jorge.




Sport versus Corinthians. Leão versus Timão. Jogo na casa dos paulistas e rubro-negros com os corações apertados. Decisão no mesmo dia de jogo dos inimigos alvirrubros. O meu cenário do jogo é um bar localizado na Avenida Bicentenário da Revolução Francesa, na comunidade de Roda de Fogo, na esquecida Zona Oeste do Recife. Ki Sabor bar e lanchonete, mais conhecido por bar do Seu Jorge, tem média extensão, com onze mesas e um cardápio gorduroso. Em dias de jogo, gritos e fumaça de cigarro fazem parte do ambiente. Nos dias comuns a fumaça continua, mas a atração em geral são DVDs de bandas de forró ou brega com vocalistas “bonitões” de óculos escuros e dançarinas de roupas minúsculas, que se remexem ao som da música. Nas últimas semanas, o bar traz um novo visual com paredes bem pintadas de amarelo ovo, que cobriu o verde mofado que estava anteriormente.

É mais conhecido por bar de Seu Jorge, por causa de Jorge, o dono do bar, um homem por volta dos 40 anos, que esconde a careca embaixo de um boné e que tem três filhas mulheres e um recém-nascido homem. “Agora sim ele pára de ter filho. Até que enfim nasceu um menino”, comentou certa vez um freqüentador assíduo em dia de jogo leonino. Seu Jorge é um homem sério, por muita vezes grosso com os empregados e torcedor do Santa Cruz. Na verdade ele é azarão do Sport, pois adora fazer apostas contra o Leão, mas sabe que esse é o único time que lota o bar em dia de jogo. Nisso a cobrinha dele não está com nada.

É no meio da fumaça dos cigarros e dos gritos de “cazá, cazá” e de vários “uh!” pelos jogadas perdidas, que sai o primeiro gol do Sport aos 30 minutos do primeiro tempo. Só se escuta “Gol porra!” e a partir daí mais “cazá cazá”. A gritaria aumenta e tenho impressão que a fumaça também, alguns pedem “mais uma cerveja”, que em horário de jogo deixa de ser R$ 1,90 para custar R$ 2,20. A partir daí, a torcida é para que o Timão não pressione e faça um gol e pra que o Sport não perca o ritmo de jogo e se contente com o resultado.

O segundo tempo começa e pouco tempo depois vem o segundo gol, neste momento o bar já está lotado, uma senhora com aproximadamente uns 38 anos, e que tem a perna no colo do marido dá um grito, mas nem é percebida, pois todas as outras pessoas do bar já estão em pé comemorando o resultado e eu acho que sou a única pessoa sentada, que só fez levantar os braços para comemorar a bela jogada e o gol. As mais felizes são as crianças, que estão ali fielmente a todos os jogos do Leão, procurando cadeira vazia e se escondendo de Seu Jorge para não serem expulsas do bar. Meninos, em geral miúdos, mas com os olhos brilhantes para a tela da TV. Isso porque no último jogo, o Leão perdeu para o time do Acosta, que neste momento faz 4 a 0 em cima do Atlético Paranaense, nos Aflitos. Seu Jorge passa por mim, pergunta o resultado do Náutico e eu respondo. Ele sai resmungando e eu tomo mais um pouco de Coca-Cola com limão para acalmar a euforia.

Mas nesse momento todo o bar já pula de alegria comemorando a vitória e uma criança no colo do pai grita o “cazá, cazá” do Sport e termina com “Flamengooo”, na confusão de camisas dos dois times. Toda essa precipitação da torcida sempre me deixa muito preocupada, pois em geral é nessa hora, final do jogo, que o Sport leva gol. Dito e feito ou melhor pensado e feito. O Corinthians faz um gol e escuto um “Meu Deus do Céu!”, ninguém parece acreditar no que está vendo. Mas é isso, mais uma vez o Leão leva uma bolada no final do jogo. O Juiz acaba o jogo e não espera o Sport terminar uma jogada que poderia levar a mais um gol. Eu fico feliz com o resultado, afinal o jogo era no Pacaembu e o Leão segurou a parada. Mas nem tanto pelo Náutico, que goleou por 5 a 0. Aos poucos, os torcedores vão indo embora, Seu Jorge coloca o DVD de brega, a fumaceira continua, as crianças deixam o ambiente feliz da vida e eu volto pra casa, que é na mesma rua e pensando: “Vou fazer uma crônica pra Sama. Será que ele vai gostar? Acho que vale a pena tentar”.




Carmelita Olliveira


sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Primeiro post

É bem verdade que a confraria decidiu que só haveria postagens depois que o blog e os seus respectivos participantes estivessem prontos. No entanto, diante das circunstâncias, decidi que hoje daria início as postagens. Mesmo assim, não postarei aquilo que combinamos que abriria este espaço. Haverá outras oportunidades. Enfim... Vamos ao post.

MILAGRES

Muitas pessoas dizem não acreditar em milagres. Para falar a verdade, até eu era meio cético em relação a isso. No entanto, hoje, acho que entendi a verdadeira essência da palavra milagre. Aprendi que os milagres não surgem do além ou de um mundo paralelo, eles estão ali, bem na nossa frente, desabrochando todos os dias.

Hoje foi um dia de milagres. Não consigo pensar em outro nome para o beijo misturado com lágrimas e sorrisos que ganhei quando chegou a hora da despedida. E olhe que ela quase não chorou depois do acidente que a deixará em casa por três dias. Outro milagre foi o sorriso de felicidade dela quando, finalmente, encontrou o sofá de casa. Ela estava suja, machucada e cansada, mas tudo o que precisava era do sofá de casa para se sentir protegida.

Milagre também foi o enfermeiro (infelizmente não peguei o nome) que, delicadamente, pôs uma tala na perna dela e fez seus curativos. Atencioso, atento e sorridente, logo ele achou uma resposta para a nossas indagações sobre a sorte de ela ter saído sem nada mais grave que arranhos depois de um encontro com o ônibus. “É isso que dá tomar muito leite quando criança. Fica com os ossos fortes”. Sábias palavras.

Milagre foi a enfermeira, que menos atenciosa que o enfermeiro, fez questão de nos dar, com anos de atraso, a boa notícia. “O médico viu as radiografias, você não teve nenhum osso quebrado. Logo, logo será liberada”. A frase arrancou a angustia que se intalara na gente. Junto com a angustia, ela também arrancou lágrimas de felicidades e alguns sorrisos de descrença. “Como pode ser isso? É impossível”.

Milagres são dois radiologistas que se preocupam com os mínimos detalhes de seus pacientes. Travesseiro na cabeça, base para o pé machucado e um lençol para o frio que ninguém ligava no momento. É de pequenos atos que se faz uma grande ação.

Milagre foi Zulmira, a enfermeira do corpo de bombeiros. Ela é daqueles tipos de pessoas que costumam dizer a coisa certa na hora certa, acho que é de tanto socorrer gente. “Já estamos chegando viu, sei que quando estamos nessa maca, parece que nunca chega, mas já estamos chegando”. Aquilo arrancou um sorriso dela, mesmo estando toda dolorida.

Milagre é o tenente da Polícia Rodoviária Federal que sentiu que o SAMU nunca chegaria e acionou o corpo de bombeiros. Eu nunca pensaria nisso, nem sei o número deles. Se dependesse de mim, estaríamos lá até agora.

Milagre é uma senhora como Walkíria, que entende o desespero dos outros e lembra dos mínimos detalhes vitais. “Tira o anel dela, pois o dedo pode inchar”. Acho que ela já deve ter encarado situações difíceis em sua vida. Só alguém que já passou por tantos baques, sabe que perder a calma pode ser fatal. Pena que na confusão perdi o número de celular dela. Queria agradecer a preocupação.

Milagre é o senhor que nota o sol que incomoda a acidentada e corre para conseguir guarda-chuvas para diminuir o calor dela. Sem contar a quantidade de gente que pára para ajudar a acidentada. Ajudam a fazer pressão no Samu (apesar de não ter adiantado) e dar dicas na hora do aperto (sempre pensei que esse povo só parasse para urubuzar o acidente. Ledo engano). Milagre é a moça de cabelo vermelho que vinha atrás da gente e me ajudou a segura-lá na hora do tombo. Só saiu quando viu que tudo estava encaminhado. Prometeu rezar por ela. Acho que vai ajudar bastante.

Milagre foi os dez segundos que ela usou para terminar a frase que me dizia e a atrasou para o encontro inevitável com o ônibus. Fico angustiado só de pensar se ela tivesse parado de falar dez segundos antes. Sorte? Eu chamo isso de milagre. O mais puro e simples milagre que pode existir na face de toda a terra. Eu que não acreditava em milagres, hoje, só pude observar estático, enquanto um a um, eles iam desabrochando na minha frente.

Para Maviosa, que eu amo muito e me deu um baita susto hoje. Ma, agora tu só tem seis vidas. Te cuida.

Audrofonso Araújo III