sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Primeiro post

É bem verdade que a confraria decidiu que só haveria postagens depois que o blog e os seus respectivos participantes estivessem prontos. No entanto, diante das circunstâncias, decidi que hoje daria início as postagens. Mesmo assim, não postarei aquilo que combinamos que abriria este espaço. Haverá outras oportunidades. Enfim... Vamos ao post.

MILAGRES

Muitas pessoas dizem não acreditar em milagres. Para falar a verdade, até eu era meio cético em relação a isso. No entanto, hoje, acho que entendi a verdadeira essência da palavra milagre. Aprendi que os milagres não surgem do além ou de um mundo paralelo, eles estão ali, bem na nossa frente, desabrochando todos os dias.

Hoje foi um dia de milagres. Não consigo pensar em outro nome para o beijo misturado com lágrimas e sorrisos que ganhei quando chegou a hora da despedida. E olhe que ela quase não chorou depois do acidente que a deixará em casa por três dias. Outro milagre foi o sorriso de felicidade dela quando, finalmente, encontrou o sofá de casa. Ela estava suja, machucada e cansada, mas tudo o que precisava era do sofá de casa para se sentir protegida.

Milagre também foi o enfermeiro (infelizmente não peguei o nome) que, delicadamente, pôs uma tala na perna dela e fez seus curativos. Atencioso, atento e sorridente, logo ele achou uma resposta para a nossas indagações sobre a sorte de ela ter saído sem nada mais grave que arranhos depois de um encontro com o ônibus. “É isso que dá tomar muito leite quando criança. Fica com os ossos fortes”. Sábias palavras.

Milagre foi a enfermeira, que menos atenciosa que o enfermeiro, fez questão de nos dar, com anos de atraso, a boa notícia. “O médico viu as radiografias, você não teve nenhum osso quebrado. Logo, logo será liberada”. A frase arrancou a angustia que se intalara na gente. Junto com a angustia, ela também arrancou lágrimas de felicidades e alguns sorrisos de descrença. “Como pode ser isso? É impossível”.

Milagres são dois radiologistas que se preocupam com os mínimos detalhes de seus pacientes. Travesseiro na cabeça, base para o pé machucado e um lençol para o frio que ninguém ligava no momento. É de pequenos atos que se faz uma grande ação.

Milagre foi Zulmira, a enfermeira do corpo de bombeiros. Ela é daqueles tipos de pessoas que costumam dizer a coisa certa na hora certa, acho que é de tanto socorrer gente. “Já estamos chegando viu, sei que quando estamos nessa maca, parece que nunca chega, mas já estamos chegando”. Aquilo arrancou um sorriso dela, mesmo estando toda dolorida.

Milagre é o tenente da Polícia Rodoviária Federal que sentiu que o SAMU nunca chegaria e acionou o corpo de bombeiros. Eu nunca pensaria nisso, nem sei o número deles. Se dependesse de mim, estaríamos lá até agora.

Milagre é uma senhora como Walkíria, que entende o desespero dos outros e lembra dos mínimos detalhes vitais. “Tira o anel dela, pois o dedo pode inchar”. Acho que ela já deve ter encarado situações difíceis em sua vida. Só alguém que já passou por tantos baques, sabe que perder a calma pode ser fatal. Pena que na confusão perdi o número de celular dela. Queria agradecer a preocupação.

Milagre é o senhor que nota o sol que incomoda a acidentada e corre para conseguir guarda-chuvas para diminuir o calor dela. Sem contar a quantidade de gente que pára para ajudar a acidentada. Ajudam a fazer pressão no Samu (apesar de não ter adiantado) e dar dicas na hora do aperto (sempre pensei que esse povo só parasse para urubuzar o acidente. Ledo engano). Milagre é a moça de cabelo vermelho que vinha atrás da gente e me ajudou a segura-lá na hora do tombo. Só saiu quando viu que tudo estava encaminhado. Prometeu rezar por ela. Acho que vai ajudar bastante.

Milagre foi os dez segundos que ela usou para terminar a frase que me dizia e a atrasou para o encontro inevitável com o ônibus. Fico angustiado só de pensar se ela tivesse parado de falar dez segundos antes. Sorte? Eu chamo isso de milagre. O mais puro e simples milagre que pode existir na face de toda a terra. Eu que não acreditava em milagres, hoje, só pude observar estático, enquanto um a um, eles iam desabrochando na minha frente.

Para Maviosa, que eu amo muito e me deu um baita susto hoje. Ma, agora tu só tem seis vidas. Te cuida.

Audrofonso Araújo III

6 comentários:

Anônimo disse...

Caraca, quando soube quase não acreditei que isso tinha acontecido.
Estou feliz por saber que ela já tá melhor
e estou feliz também por ler um texto tão lindo desse
parabéns Audrofonso Araújo III
:)
apesar das circunstância
Má, fica boa e cuidado
pq agora realmente são só 6 vidas!

Juliana disse...

poxa, a dona moça deu susto em todo mundo!
não são so medicos e enfermeiros que faz a dor aliviar, ams tambem, todas essas pessoas...e esse texto de amor a vida!
parabéns, senho ;)

Unknown disse...

lipe, esse texto foi amor de muito e delicadeza aos montes! Má, agora tu vai ter que olhar a rua seis vezes antes de atrevesar! uma olhada por cada vida ;)

Unknown disse...

Lipe, você emociona a gente. Emociona lindissimamente.

Anônimo disse...

Esse prometido me enche de orgulho, prometido pq para quem não sabe Audrofonso e Maviosa estão prometidos!
Sim, mas comentário lindo e bora brincar de cmeçar a barruar em gente em vez de ônibus.

Anônimo disse...

Já dizia o grande ícone POP Broz
"sim, sim, sim, esse amor é tão profundo"

Esse texto foi... foi tudo!

Vai filhão!