domingo, 7 de outubro de 2007

O bar de Seu Jorge: O dia em que o Leão devorou Timão

Já faz tempo.
Hoje já tem outro jogo.
Mas é assim que acontece lá em Seu Jorge.




Sport versus Corinthians. Leão versus Timão. Jogo na casa dos paulistas e rubro-negros com os corações apertados. Decisão no mesmo dia de jogo dos inimigos alvirrubros. O meu cenário do jogo é um bar localizado na Avenida Bicentenário da Revolução Francesa, na comunidade de Roda de Fogo, na esquecida Zona Oeste do Recife. Ki Sabor bar e lanchonete, mais conhecido por bar do Seu Jorge, tem média extensão, com onze mesas e um cardápio gorduroso. Em dias de jogo, gritos e fumaça de cigarro fazem parte do ambiente. Nos dias comuns a fumaça continua, mas a atração em geral são DVDs de bandas de forró ou brega com vocalistas “bonitões” de óculos escuros e dançarinas de roupas minúsculas, que se remexem ao som da música. Nas últimas semanas, o bar traz um novo visual com paredes bem pintadas de amarelo ovo, que cobriu o verde mofado que estava anteriormente.

É mais conhecido por bar de Seu Jorge, por causa de Jorge, o dono do bar, um homem por volta dos 40 anos, que esconde a careca embaixo de um boné e que tem três filhas mulheres e um recém-nascido homem. “Agora sim ele pára de ter filho. Até que enfim nasceu um menino”, comentou certa vez um freqüentador assíduo em dia de jogo leonino. Seu Jorge é um homem sério, por muita vezes grosso com os empregados e torcedor do Santa Cruz. Na verdade ele é azarão do Sport, pois adora fazer apostas contra o Leão, mas sabe que esse é o único time que lota o bar em dia de jogo. Nisso a cobrinha dele não está com nada.

É no meio da fumaça dos cigarros e dos gritos de “cazá, cazá” e de vários “uh!” pelos jogadas perdidas, que sai o primeiro gol do Sport aos 30 minutos do primeiro tempo. Só se escuta “Gol porra!” e a partir daí mais “cazá cazá”. A gritaria aumenta e tenho impressão que a fumaça também, alguns pedem “mais uma cerveja”, que em horário de jogo deixa de ser R$ 1,90 para custar R$ 2,20. A partir daí, a torcida é para que o Timão não pressione e faça um gol e pra que o Sport não perca o ritmo de jogo e se contente com o resultado.

O segundo tempo começa e pouco tempo depois vem o segundo gol, neste momento o bar já está lotado, uma senhora com aproximadamente uns 38 anos, e que tem a perna no colo do marido dá um grito, mas nem é percebida, pois todas as outras pessoas do bar já estão em pé comemorando o resultado e eu acho que sou a única pessoa sentada, que só fez levantar os braços para comemorar a bela jogada e o gol. As mais felizes são as crianças, que estão ali fielmente a todos os jogos do Leão, procurando cadeira vazia e se escondendo de Seu Jorge para não serem expulsas do bar. Meninos, em geral miúdos, mas com os olhos brilhantes para a tela da TV. Isso porque no último jogo, o Leão perdeu para o time do Acosta, que neste momento faz 4 a 0 em cima do Atlético Paranaense, nos Aflitos. Seu Jorge passa por mim, pergunta o resultado do Náutico e eu respondo. Ele sai resmungando e eu tomo mais um pouco de Coca-Cola com limão para acalmar a euforia.

Mas nesse momento todo o bar já pula de alegria comemorando a vitória e uma criança no colo do pai grita o “cazá, cazá” do Sport e termina com “Flamengooo”, na confusão de camisas dos dois times. Toda essa precipitação da torcida sempre me deixa muito preocupada, pois em geral é nessa hora, final do jogo, que o Sport leva gol. Dito e feito ou melhor pensado e feito. O Corinthians faz um gol e escuto um “Meu Deus do Céu!”, ninguém parece acreditar no que está vendo. Mas é isso, mais uma vez o Leão leva uma bolada no final do jogo. O Juiz acaba o jogo e não espera o Sport terminar uma jogada que poderia levar a mais um gol. Eu fico feliz com o resultado, afinal o jogo era no Pacaembu e o Leão segurou a parada. Mas nem tanto pelo Náutico, que goleou por 5 a 0. Aos poucos, os torcedores vão indo embora, Seu Jorge coloca o DVD de brega, a fumaceira continua, as crianças deixam o ambiente feliz da vida e eu volto pra casa, que é na mesma rua e pensando: “Vou fazer uma crônica pra Sama. Será que ele vai gostar? Acho que vale a pena tentar”.




Carmelita Olliveira


3 comentários:

Anônimo disse...

Um texto falando sobre a vitória do Sport. Meu pai, acho que é isso que dá dividir um blog. Mas td bem, sei que posso sobreviver a isso. Bom... aesar do tema, um texto muito bom Carmelita. Parabéns!! Agora aumentar a cerveja em hora de jogo é pra quebrar um.

Abraços

Audrofonso Araújo III

Anônimo disse...

Pelo texto (por sinal muito bom) a gente já percebe que o assunto mais interessante do dia foi o 5x0 nos aflitos.

Abraços,

Dédala

Anônimo disse...

Eu diria que, caro senhor presidente Audrofonso, se o senhor bebesse cerveja, poderia reclamar. Mas o senhor só fuma incenso, caro senhor. Ou sei lá o que mais cheira com a senhora digníssima Carlota Joaquinha. Bom proveito.

Perfídia