Na primeira vez que o vi, a sensação era pânico. Ele era o assaltante, enquanto eu era o assaltado. O encontro foi rápido. Só o tempo necessário para ele subir no ônibus, render todo mundo e fazer a coleta do dinheiro. Eram três garotos. Nenhum deles usava capuz, mas foi ele que me chamou a atenção. Não foi o fato de ele ser negro, forte ou ser novo demais (acho que ainda tinha 17). Foram seus olhos. Eram olhos vazios, perdidos. Como se aquele fosse o último suspiro. Por um instante, cheguei a ter pena. Mas foi só por alguns segundos. Ele tomou minha carteira e desceu do ônibus.
A segunda vez que o encontrei foi alguns meses mais tarde. Daquela vez, minha sensação era de revanche. Ele era o réu, enquanto eu a testemunha principal. Dessa vez não foi tão rápido, durou quase cinco horas. Foi só o tempo de todos os envolvidos prestarem depoimento, do juiz dar a sentença e ele ser condenado a alguns anos de prisão. Daquela vez, seus olhos voltaram a me chamar a atenção. Continuavam perdidos no vazio.
Alguns anos mais tarde, voltei a encontrá-lo. Dessa vez, o encontro foi mais rápido que os outros dois. Foi na porta da minha casa. Eu estava chegando, à noite, e ele estava esperando. De longe, eu vi a arma na mão dele. Não corri, não gritei, não virei a cara. Naquele momento, todo o meu corpo era resignação. Foi só o tempo de ele chegar perto, levantar a arma e puxar o gatilho. Morri com aquele olhar na memória. Os olhos perdidos foram as últimas coisas que vi.
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
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4 comentários:
Uau. Esses assaltos nos deixam lembranças de olhos fechados. Nos roubam coisas que não podemos comprar de volta. Não adianta proteção. Somos desprotegidos, desprotegidos.
belo texto.
Porque o tanto do vazio de lá era o quanto do cheio daqui....
beijos
O mundo está cheio de olhares vazios.
Bjo
Gostei muito do texto, parabéns.
Beijo.
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